Meio Marinho
As principais problemáticas observadas no momento agudo do impacto podem ser listadas como sendo: a) extensão, caracterização e variação temporal do impacto no ecossistema; b) balneabilidade das praias e c) impacto nos recursos vivos/pesqueiros. Estas problemáticas estão associadas diretamente à necessidade de se conhecer a influência do impacto na saúde humana e no meio social. Para identificar, mensurar e mitigar os impactos causados no ambiente marinho, decorrentes da presença dos rejeitos de mineração, é preciso, inicialmente, entender o funcionamento dos ecossistemas atingidos e dos ecossistemas associados. Esse conhecimento será primordial para traçar medidas para sua recuperação e garantir a manutenção dos serviços prestados por eles. Os serviços ecossistêmicos podem ser definidos como os benefícios às populações humanas derivados direta ou indiretamente das funções do ecossistema, como o fornecimento de recursos alimentares, água para consumo e irrigação, controle de erosão e retenção da sedimentação, aumento da resiliência em caso de flutuações climáticas, e serviços de ordem cultural e recreativa.
Para remediar os impactos, é fundamental integrar as informações obtidas pelos programas de pesquisa biogeoquímicos, oceanográficos, saúde humana e sócio-econômicos da academia, com as ações governamentais.
As ações de pesquisa que são propostas aqui envolvem:
I) Extensão e Caracterização do Impacto no Ambiente Costeiro/Marinho
Compreensão do funcionamento dos ecossistemas marinhos atingidos, suas variações espaciais e temporais. Esta investigação envolve a caracterização e o monitoramento da dispersão da pluma do Rio Doce visando compreender a característica química e sedimentológica da fração particulada e dissolvida oriundas do impacto e como a dinâmica desta pluma se altera com variações na vazão do rio e em condições sinóticas distintas. Entender como se dá o comportamento dos metais ao longo do tempo e o potencial de biodisponibilidade. Definir a composição sedimentar e mineralógica que indica a fonte do rejeito e o marco estratigráfico no fundo marinho. O estudo da dinâmica da pluma está totalmente integrado a caracterização da composição e estrutura das comunidades, as interações tróficas, a dinâmica populacional das espécies que compõem estes ambientes. Esta integração permitirá avaliar a influência direta e indireta do impacto causado pelo aporte de material de rejeito e seus derivados nos diversos processos oceanográficos, incluindo biogeoquímica da água e sedimento, taxas de sedimentação, produção primária, cadeia trófica, entre outros. É importante ressaltar o potencial impacto em unidades federais de conservação ambiental, como a área da Reserva Biológica de Comboios que está sendo diretamente afetada pelo desastre, a Área de Proteção Ambiental Costa das Algas está muito próxima da influência e guarda a maior biodiversidade de algas calcáreas do Brasil e, um pouco mais distante ao norte, O Parque Nacional dos Abrolhos.
II) Balneabilidade
A falta de um índice de balneabilidade que considere a contaminação por metais é um dos problemas enfrentados pelos gestores e tomadores de decisão em todos os níveis administrativos da União. A ação para estudos de balneabilidade envolve a integração de análise de dados de água, sedimento e comunidade bentônica ao longo das praias e zona submersa adjacente. A caracterização, extensão e variação temporal dos índices de metais na água, no sedimento praial e o impacto nas comunidades bentônicas se tornam o foco desta parte do projeto. O desenvolvimento desta etapa deve estar associada à pesquisas na área de saúde humana visando avaliar os potenciais riscos causados pela alta turbidez e elevação de teor de metais na água.
III) Recursos Vivos e Pesqueiros
O desastre e o aporte do material no mar trás ainda a indefinição e insegurança no que diz respeito ao consumo dos recursos pesqueiros da região. Conhecida como uma importante área de arrasto de camarão, o depósito lamoso da foz do rio Doce forma um habitat perfeito para a ocorrência deste recurso. Além disso, existe toda uma ictiofauna que é pescada na região, bem como a presença de família de cetáceos que habita a área. A Reserva Biológica de Comboios está diretamente sendo afetada pelo desastre, sendo uma das áreas da costa brasileira mais importante para desova de tartarugas marinhas. O impacto nos recursos vivos deve ser caracterizado e monitorado ao longo de toda a cadeia trófica para que se possa entender se existe algum processo de bioacumulação em andamento e como alterações na produção primária podem afetar a biodiversidade dos recursos vivos da região.
Coordenador: Alex Bastos
Projetos propostos:
Título: Avaliação de nutrientes, metais e lipídeos em sedimento, água e biota na área de influência da foz do rio Doce e região.
Coodenação: Renato Rodrigues Neto
Título: Diagnóstico e monitoramento dos impactos sobre a ictiofauna e a carcinofaunana região costeiro-marinha adjacente à sua foz
Coodenação: Maurício Hostim
Título: Avaliação Ecotoxicológica do Rio Doce utilizando Ouriço-do-Mar (Echinodermata)
Coodenação: Luiz Fernando Loureiro
Título: Análise e investigação de Processos Sedimentares na Plataforma Continental Adjacente a Foz do Rio Doce: Do Transporte à Formação do Depósito
Coodenação: Valéria Quaresma, Marcus Tadeu, Caio Turbay, Alex Bastos
Título: Monitoramento dos impactos do rejeito de minério sobre a comunidade fitoplanctônica na área de desembocadura do Rio Doce e plataforma continental adjacente.
Coodenação: Camilo Dias Jr.
Título: Proposta de monitoramento de potenciais impactos do rejeito de minério de ferro no sedimento e comunidade bentônica de praias e antepraias adjacentes a desembocadura do Rio Doce – ES
Coodenação: Jacqueline Albino, Maria Tereza, Karla Costa, Adriane Braga
Título: Modelagem Numérica e Circulação da Plataforma Continental
Coodenação: Renato D. Ghisolfi
Título: Monitoramento e avaliação de áreas de concentração de espécies ameaçadas de extinção (tartarugas a mamíferos marinhos)
Coodenação: Agnaldo Martins e Ana Paula Cazerta
Título: Monitoramento Zooplanctônico da Foz do Rio Doce, Espírito Santo
Coodenação: Luiz Fernando Loureiro
Título: Monitoramento do Desembarque Costeiro no ES
Coodenação: Maurício Hostim
Título: Avaliação e monitoramento de prevalência de metais e avaliação dos efeitos citotóxico, genotóxico e morfológicos em organismos aquáticos de ocorrência em regiões estuarinas do Rio Doce
Coodenação: Breno de Melo
Título: Organização trófica da ictiofauna do rio Doce sob a ótica de flutuações espaciais e temporais
Coodenação: Jean Christophe
Título: Mapeamento e Estudos dos Impactos em Recifes Mesofóticos do ES (APA Costa das Algas e Sul de Abrolhos)
Coodenação: Alex Bastos, Rodrigo Moura, Gilberto Amado
Título: Impacto potencial nos Manguezais Adjacentes: Fauna e Flora
Coodenação: Mônica Tognella
Título: A viabilidade da pesca artesanal frente ao impacto causado pelos rejeitos: o uso do conhecimento tradicional
Coodenação: Camilah Zappes